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Cracolândiacasino bet tracker -- Um Olhar Diferente

Quantas vezes você leu que a Cracolândia é um problema há 30 anos no centro de São Paulo?casino bet tracker - Escutou na TV pelo menos. Na voz de um jornalista corretamente engravatado. Aos berros por um deputado coronel-pastor-empresário. Por pesquisadores e pesquisadoras com fundo de estantes cheias de livros. À esquerda ou à extrema-direita. Sinceramente, pedimos para que tente se lembrar.

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Porque o que propomos aqui é completamente diferente. Não vamos dizer que a Cracolândia é um problema, porque a Cracolândia é antes de tudo (e talvez apenas) as pessoas. O fluxo só existe como multidão. Gente forte e fraca, grande e pequena, de coração aberto e egoísta, ao mesmo tempo. A maioria preta, mas alguns não. De baixa escolaridade e pobre, sem esquecer dos doutores e ex-professores. Apesar de que ali não se deixa de ensinar e quem quer consegue aprender.

No dia 8 de julho de 2023, o Estado, que pode atender por governo, prefeitura ou Judiciário, mas que na Cracolândia costuma aparecer muito mais fardado, fez mais um mal desnecessário. Obrigou aquela massa de pessoas, várias descalças, a percorrer 3 quilômetros ao incentivo macabro de granadas de gás, bombas de efeito moral e 23 balas de borracha (segundo os próprios informaram por Lei de Acesso à Informação). O objetivo era obrigar o fluxo a ficar em um lugar inóspito, entre a Marginal Tietê e os urubus. O que não aconteceu.

A partir dos relatos dessas pessoas, que colhemos para denunciar mais essa violação, tentamos retratar um pouco de como isso repercutiu nos corações das pessoas que hoje fazem A Craco Resiste. Nós, que às quintas-feiras, algumas chuvosas, vamos às ruas que durante o dia são a Santa Ifigênia para jogar futebol, à moda das crianças de cidades pequenas e bairros tranquilos. A gente, que tenta em algumas quartas-feiras do mês projetar um filme em um lençol preso com fita crepe, acreditando que cinema não é o filme, é a experiência de ver uma história junto.

Nós estamos aqui tentando contar essa narrativa de uma forma que você queira entender. Sem verdades absolutas, apenas com a certeza que as soluções estão nas pessoas.

Cena 1 - Negra livre

Da Rua dos Gusmões com a Triunfo se ouvem histórias, denúncias e pedidos. Estão lá aos milhares, a qualquer hora do dia ou da noite é possível escutá-las. "As pessoas ficavam olhando pra gente enquanto [éramos levados]." "Não deu tempo de pegar nada. Ninguém falou pra onde a gente estava indo." "Não tinha opção, tinha que seguir o caminho que estavam empurrando." "Eles trata nóis como um bicho, conspiram em gente caída no chão."

As frases remontam a noite fria e chuvosa do dia oito de julho de 2023, na qual as Polícias Militar, Civil e a Guarda Civil Metropolitana (GCM) deslocaram dezenas ou centenas de pessoas (não se sabe ao certo) da Cracolândia para a Ponte Governador Orestes Quércia, da Marginal Tietê. "Eu uso aqui no fluxo pra não ficar fumando nas calçadas, não merecemos isso." "Moro na Duque de Caxias, não me deixaram voltar pra casa, tenho osteoporose, por que fazer caminhar até lá?" "Uma pessoa caiu no rio, só então pararam a operação."

Semanas depois os relatos desta noite ainda reverberam pelas ruas do centro de São Paulo, e as marcas das balas de borracha estampam os corpos de muitos que por ali passam. "Jogaram spray de pimenta na minha boca duas vezes", conta mais uma das pessoas ouvidas que vivem na Cracolândia, alvo de operações policiais há pelo menos uma década.

Na semana do dia 24 de julho de 2023, foi divulgada a pesquisa _Operação Cachimbo: relatório das detenções em massa realizadas na Cracolândia", produzida pelo Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública de São Paulo, na qual aponta que 90% das prisões em massa em 2022 na Cracolândia foram consideradas ilegais pela Justiça e arquivadas. Um dos motivos para o arquivamento das ações contra os usuários de drogas é o de "Princípio da Insignificância". Talvez seja esse o mesmo motivo para as tantas histórias, denúncias e pedidos nunca ouvidos.

"Ao invés de buscarem tratamento, de regularizarem um espaço de uso, esse é o Estado que deveria nos proteger. Esse mesmo estado que permite com que a droga entre no meu país. E agora o que fazer, pergunto eu para a sociedade?" "Coloca aí: assinado mulher negra e livre."       

Cena 2 – Continuidade do pesadelo colonial

Registros do aprendizado da violência colonial disparados numa das últimas operações policiais no fluxo:

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